“O escândalo da educação reside no facto de sempre que ensinamos algo estamos a privar a criança do prazer e do benefício da descoberta.”
Como já disse antes, sou um maníaco dos jogos de computador. Lembro-me de um, muito famoso, que preencheu toda a minha meninice: Lemmings (podem jogar através deste link!!!). Muitos de vós devem conhecê-lo. Quem o conhecer rir-se-á com o cartoon que aqui coloquei.
Como já disse antes, sou um maníaco dos jogos de computador. Lembro-me de um, muito famoso, que preencheu toda a minha meninice: Lemmings (podem jogar através deste link!!!). Muitos de vós devem conhecê-lo. Quem o conhecer rir-se-á com o cartoon que aqui coloquei.
O jogo consiste, basicamente, em salvar criaturinhas com graves problemas de personalidade (os Lemmings) que se limitam a andar numa única direcção como se fossem cegos, surdos e mudos. Isto é, movem-se sem ter noção das consequências do que pode acontecer adiante. Imaginem o como seria se eu caminhasse até à beira de um penhasco sem me preocupar com o facto de ir cair de uma altura de 100 metros, e atrás de mim caminhassem todos os meus amigos, que me seguiriam sem problemas até ao fundo do penhasco. Os lemmings são assim! Alguém tem de os salvar! Só estarão salvos quando alcançarem um portal que os envia para aquilo que, em menino, imaginava como sendo o Jardim do Éden… Ainda hoje imagino que seja para aí que vão, mas é embaraçoso dizê-lo… Ora, para os salvar deste mundo perigoso temos à nossa disposição uma série de ferramentas (perspicazmente limitadas e seleccionadas para cada nível) para os fazer alcançar as “portas da salvação”.
O que acontece é que eu passava dias e dias de volta de um determinado problema: ora a pensar como evitar que caíssem no lodo, como fazê-los subir uma parede, como escavar até determinado ponto, et cetera, et cetera, et cetera… tudo para salvar aquele povo estúpido, mas que me é muito querido.
Lembro-me que sempre que resolvia um nível dos mais difíceis dava pulos de alegria e esperava até o meu pai voltar do trabalho para que visse como consegui enviar os lemmings para casa, ou lá para onde vão…
Entretanto apercebia-me das consequências de determinados actos, ganhava noções de espaço e de tempo, aprendia a gerir um grupo e empenhava-me para alcançar um objectivo! (Entre outras aprendizagens que, a esta hora, não me acorrem.)
A questão que coloco é: o que mudaria se fosse o meu pai a dizer-me como salvar os pobres lemmings?
Tal como Papert, não defendo que se deixe a criança por sua conta, defendo o incentivo e a supervisão acima da aprendizagem passiva, que repele a descoberta. A natureza dos miúdos é isso mesmo: descobrir! Deixemo-los descobrir, mas espreitemos atrás da porta, não vá a coisa dar para o torto, se é que me faço entender…
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Muitos Parabéns Filipe pelas reflexões sobre o blog, sempre genuínas!
Peço desculpa não ter comentado ao longo do semestre..! Mas a propósito da frase com que inicia este post, e claro, de acordo com todo o pensamento de Papert ao longo do livro, deixo-lhe esta "estória" de Einstein:
"Certo dia estavam duas crianças patinando em cima de um lago congelado. Era uma tarde nublada e fria e as crianças brincavam sem preocupação. De repente, o gelo quebrou e uma das crianças caiu na água. A outra criança vendo que o seu amiguinho se afogava debaixo do gelo, pegou numa pedra e começou a golpear com todas as suas forças, conseguindo quebrá-lo e salvar o amigo. Quando os bombeiros chegaram e viram o que havia acontecido, perguntaram ao menino: - Como conseguiste fazer isto? É impossível que tenhas quebrado o gelo com essa pedra e as tuas mãos tão pequenas! Nesse instante apareceu um ancião e disse: - Eu sei como ele conseguiu. Todos perguntaram: Como? O ancião respondeu: - Não havia ninguém em seu redor para dizer-lhe que ele não seria capaz."
Albert Einstein